O escritor, jornalista,
roteirista e professor João Ubaldo Ribeiro nasceu na cidade de Itaparica, na Bahia.
João Ubaldo procurou no romance
propriamente regionalista o ponto de apoio para construir sua ficção. Desse
momento datam os romances Vila Real, mais politicamente engajado, e Sargento
Getúlio. Porém, com o tempo, foi a parcela itaparicana de sua obra
que deixou marcas mais profundas na lembrança de seus leitores.
A faceta da obra de João Ubaldo que mais se conhece, e que faz par
com a imagem unifacetada que geralmente se tem dele, está ligada a um universo
pitoresco, caricato, de deboche. Tal característica faz de seus livros
autênticos herdeiros, se não os únicos, de um dos elementos essenciais do
Modernismo, o eixo propriamente dito do herói modernista, Macunaíma, qual seja,
a capacidade de rir de si mesmo. Esse diferencial, que já sugeriu o título de Viva
o povo brasileiro, é a única coisa, além de jogar futebol, que o
nosso povo faz disparado melhor que todos os outros. É a inspiradora dos poucos
momentos nos quais nos sentimos superpotência. Mas rir de si mesmo, ao
contrário do que se pode imaginar, não é um dom estéril, improdutivo. Ele dá ao
brasileiro a capacidade de conviver com o diferente, de fazer o compromisso
através do humor, enfim, de ter “um amigo judeu e um umbandista”, como diz João
Ubaldo. “Eu penso como Darcy Ribeiro, acho que somos uma bem-sucedida e
singular experiência de raças” – continua ele, em seguida alertando: “Mas
queremos jogar isso fora”. O alerta faz sentido, afinal, quem, nos dias de
hoje, quer ficar rindo? De si mesmo, então, pior ainda. Hoje o que se busca é
uma imagem de eficiência a todo o custo, não há muitas brechas para a
autocrítica.
Índios bebedores de cachaça, autoridades corruptas, feiticeiras,
poderosos idealistas, poderosos corruptos, quilombos subvertidos em reinos
tirânicos e escravocratas, impotência masculina, caprichos femininos,
sexualidades patéticas, e tudo isso com tintas fortes, sem economizar nas
adjetivações, nas ironias pseudomoralizantes, com a língua em festa, pródiga,
escandalosa, rindo de tudo e de si mesma. É assim o livro de João Ubaldo
Ribeiro.
A precisão de suas caracterizações de personagens
e descrições de cenários é atingida fazendo uso da amplificação e do estilo
rebuscado, caudaloso. Viva o excesso, a generosidade! “É a minha prosa, a prosa
que eu aprendi com Padre António Vieira, Manoel Bernardes. Gosto da língua
portuguesa nessa forma”.As primeiras páginas do novo romance são, de fato, a
antítese de noventa por cento da prosa que se faz atualmente. É um cenário
tropical, de sonho, luxuriante, descrito de forma requintada, barroca, rococó.
Frases longas, orações intercaladas, volteios e mais volteios, figuras
demoníacas, as forças positivas e negativas da natureza, o bem e o mal, o
mistério. Depois, os personagens aparecem e vêm confirmar o anti-realismo, o
fundo mítico, arquetípico, de cada elemento do romance.
Principais obras
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O
Sorriso do Lagarto |
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O
diário do farol |
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A
Casa dos Budas Ditosos |